segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Cada curva é um pedaço de encontro


Até chegar ao inevitável "?", pode começar-se por "porquê" ou por "qual o sentido". Pelo meio poderá haver referência a Pampilhosa, a Aldeias, a amor, a bom vicio... nomes ou adjetivos vários que poderão querer traduzir um sentimento ou vivencia.
Chamar-me-ão louca, despropositada e desproporcionada.
Terão razão!
Não consigo explicar o sentimento que me impele a percorrer centenas de Kms para poder lá estar apenas umas horas…
Um composto físico-químico de contornos magnéticos que atrai, que nunca esquece!
Os cheiros, as paisagens;
Os abraços e os sorrisos;
Os montes cuidadosa e sequencialmente dispostos até à linha do horizonte;
Os cursos de águas dando vida por onde passam;
A pronuncia e os termos caraterísticos;
Os carreiros que serpenteiam as serras;
Os sabores da simplicidade artesanal;
As memórias do passado e a bênção de pertencer a tal casta…
Sentir que ser “da terra” me corre nas veias e não depende do local onde nasci!
Ser serrana de coração! Serrana como os meus pais, os meus avós, como os meus filhos sentem ser!
Louca, despropositada e desproporcionada?
Sim, admito que possa ser! Que Deus me permita continuar a sê-lo!
Traduzindo esta vivência vivendo-a!
Explicando este sentimento sentindo-o!
Não, a minha terra não está perdida na serra!
A minha terra encontra-se na serra!
Cada curva é um pedaço de encontro com uma realidade que me honra e com a qual aprendo todos os dias!
A minha gente encontra-se na serra!
Tantas vidas que me servem de exemplo pelo inconformismo e a paixão com que lutam, mostrando ao mundo a sua força, o seu valor!
“Porquê" ; "qual o sentido"… Louca, despropositada e desproporcionada?
Sim… ou então apenas uma serrana orgulhosamente despenteada!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Vinte?

Como podem passar tão depressa vinte longos anos?
Como posso estar há vinte anos sem ti estando tu sempre comigo?
Porque me confortas e sorris mesmo sabendo que os olhos não voltarão a abrir-se?
Como consegues continuar a dar-me lições de vida apresar do teu corpo sem vida?
Porque sinto esta presença constante de uma saudade imensa?
Como podem vinte anos ter mantido tudo tão atual?
Porque tenho de me conformar com o inconformável?
Porque continuo à espera, mesmo sabendo que não voltas?
Se nada fez nem faz sentido, porque continuo a querer respostas?
Se sei que não vou ter respostas, porque insisto nas perguntas?
Haverá algo nestes vinte anos, noutros vinte passados e nos vinte que hão-de vir que não seja questionável?
O amor!
O nosso amor nunca foi nem será questionado!
Porque é imenso e infinito!
Porque é passado, presente e futuro!
Porque o amor és tu!



Mãe...
22.02.1941 - 18.12.1994

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Maria do Forno

Permitam que vos fale de uma mulher especial: a minha avó!

Creio que posso afirmar que minha avó deixou a sua marca neste mundo!
O mundo é muito grande mas… o seu mundo era muito maior do que aquele que conheceu.
O seu nome era Maria dos Anjos Pedro mas todos a conheciam por Maria do Forno.
Nasceu em 1906.
Era filha única, coisa rara naquele tempo.
A ciência e a distância dos grandes centros, não permitiram respostas às dificuldades que a sua mãe tinha para manter a gravidez até ao fim ou combater a mortalidade infantil. Um dos irmaos ainda conseguiu chegar à adolescencia mas Maria foi a única que conseguiu passar por esse difícil crivo e chegar à idade adulta.
Sabia ler e escrever! Foi o pai que a ensinou!
 “Para que é preciso uma rapariga saber ler?” perguntava a maioria.
Na altura, poucos (ou nenhuns) rapazes iam à escola, aprendendo com os mais velhos o essencial da leitura e escrita. As raparigas nem isso! Havia a convicção de que uma rapariga não precisava de saber ler e escrever e que isso só serviria de descaminho! Além de "correrem o risco" inerente ao crescente conhecimento, permitiria trocar cartas com algum rapaz mais afoito, às escondidas dos seus progenitores.
O seu pai, homem de mente aberta e igualmente à frente do seu tempo, seguiu a sua ideia sem se importar com as opiniões alheias, ensinado a sua filha. Maria foi talvez  a única mulher (das da sua geração) alfabetizada nas Aldeias.
Casou cedo, com apenas 16 anos, com Carmelindo. Aos 17 anos teve a primeira filha e 17 anos depois nascia a filha mais nova. Entre uma e outra nasceram mais 6 crianças. Dos oito filhos que teve, chegaram 6 à idade adulta: dois rapazes e 4 raparigas. Três anos depois do nascimento da filha mais nova, ficou viúva.
Sempre tinha tido uma vida confortável mas a viuvez trouxe uma grande reviravolta!
As três filhas mais novas ficaram consigo na Aldeia. Os outros mais velhos já tinham partido para a cidade grande! A idade adulta chegava cedo naquela altura…
Passaram necessidades, talvez algum “frio na barriga” mas nem por isso perderam a dignidade e o sentido de que a união entre as quatro seria a sua melhor arma contra todas as adversidades. 
Protetora mas não castradora, discretamente atenta, completamente presente!
Connosco, os netos, era igualmente protetora, atenta e presente. Às vezes até parecia que estava distraída, que as nossas marotices passavam despercebidas mas depois, pelo que nos dizia, víamos claramente que quando nós “estávamos a ir, já ela estava de volta”!
Por graça, chegámos a apelidar as nossas brincadeiras de “Os cinco e a avó nervosa” adaptando o título de uma coleção de livros de aventuras muito em voga na época às nossas aventuras de verão. A sua constante preocupação com o nosso bem estar inspirou o titulo das nossas aventuras na Aldeia.
A minha avó era muito magra e tinha um aspeto frágil! No entanto, era uma fortaleza!
Um exemplo de que a sabedoria não precisa de “show off”! Precisa de apenas de estar lá, no local e momento certos!
Maria do Forno teve uma especial missão não só nas Aldeias mas por vários lugares do Concelho. As suas mãos esguias, hábeis e seguras, trouxeram ao mundo dezenas de bebés. Até nos casos mais complexos que exigiam a presença de um médico, este requisitava a sua presença para o auxiliar, reconhecendo assim a sua competência. Trazer à luz é indubitavelmente uma missão!
Não tenho duvidas de que esta mulher tinha um dom…
Um dom apaziguador, curativo, nascido dela e com ela. Daquelas coisas que não têm explicação! Simplesmente se testemunham, se vivênciam!
Tenho saudades da minha avó!
Das suas conversas vindas do nada, da aparente fragilidade, de como andava à chuva  por me ter dado o único guarda-chuva que tinha (e de nada valeu insistir que se abrigasse ela!), das “bichas de botelha” que fazia sempre que estava em minha casa… Coisas simples mas de tão doce memória!
Sempre que penso sua vida, sinto-me grata por descender de tão valiosa casta!
Quem dera ter recebido dela os genes da determinação!
De uma coisa tenho certeza: O seu mundo era mesmo muito maior do que aquele que conheceu.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O nosso tesouro!

Quando um sorriso se apaga, o mundo perde um tesouro.
Na correria dos dias, em que nos queixamos não haver tempo para nada, perdemos horas de sorrisos por coisas que, bem pensado, não têm importância nenhuma!
Se na correria dos dias conseguirmos parar um pouco para pensar, depressa concluímos que a maior parte das coisas que no momento consideramos uma tragédia, mais tarde se revelam um “nada”!
Talvez faça parte da condição humana ser assim: criar um castelo de problemas onde deveria estar uma palete de cores.
O mais estranho é que, muitas vezes, recusamos olhar de frente os problemas que existem (porque existem e todos os temos). Tapamos os olhos, viramos as costas, arranjamos justificações e culpados. É da falta de chuva ou do excesso dela, do sol que queima ou se ausenta, o vento contrário, o mar revolto...
Estamos sempre insatisfeitos, zangados com a vida!
Às vezes parece que nos afundamos em problemas de lana-caprina por falta de problemas a sério! É que quando estes nos aparecem... ah... a realidade ganha outra dimensão!
A vida é uma dádiva tão grande! Se a temos e se passa tão rápido, porquê perder tempo?
Viver!
Apaixonadamente!
Com tudo a que temos direito!
Com um amor enorme e responsavel pela pessoa humana, amor próprio e amor ao outro!
Cometer excessos? Claro! Excessos que não nos destruam, minimizem, anulem!
Excessos que elevem quem somos!
Viver com um sorriso! Sorrir atrai outro sorriso e outro e outro! Sorrir é contagioso!
Deixemo-nos contagiar! Sejamos portadores do bem que um sorriso comporta.
Na correria dos dias, em que nos queixamos não haver tempo para nada, encontremos tempo para sorrir!
Quando um sorriso se apaga e o mundo perde um tesouro, a correria abranda, o choque faz-nos pensar e relativizamos as nossas “tragédias” diárias!
Um sorriso não faz desaparecer uma agrura da vida, mas torna-a certamente menos áspera, menos castrante!

Aprendamos com a partida a importância da presença!
Viver e saborear o que se tem, quem se tem!
A vida é uma dádiva tão rica mas tão breve!

Aprendamos com quem nos oferece uma cara alegre, uma palavra bem-humorada, um passo de dança ou um momento de quietude!
Viver!
Apaixonadamente!
Com tudo a que temos direito!

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Férias grandes

No tempo em que era “estudante profissional” havia um período no ano a que se chamava “férias grandes”!
Eram grandes mesmo! Começavam em meados de Junho e iam até meados de Outubro.
Às tantas tínhamos saudades da azáfama da escola, dos colegas, dos intervalos, das aulas (destas menos…) e ficávamos fartos de estar em casa.
O tempo passou e as férias foram ficando mais curtas.
Na faculdade há exames até Julho, por vezes tem de se voltar a ser examinado em Setembro, o que deixa livre apenas o Agosto (que de devia aproveitar para estudar para Setembro, coisa que ninguém faz).
Quando começamos a trabalhar, o conceito de “férias grandes” ganha todo um novo significado!
Tudo muda!
Trabalhamos todo o ano a pensar em duas ou três semanas de descanso.
A ansiedade aumenta à medida que a data se aproxima.
Fazemos planos, traçamos destinos e depois, sem saber como, o tempo passa tão depressa que quase não damos conta!
É muito bom ter para onde voltar, mas o primeiro dia custa sempre.
Vamos e voltamos e a ideia com que ficamos é que o tempo ficou em stand-by durante a nossa ausência.
Ao fim da primeira semana, já as férias parecem algo ocorrido num passado longínquo.
Na verdade, as “férias grandes” não são assim tão grandes!
Creio que posso dizer sem vos fugir com a verdade, que as minhas “férias grandes” tiveram momentos sem medida, dos que perduram no coração, nos fazem pensar no que realmente importa e nos enchem de sorrisos!
Não podemos mudar a duração dos dias, mas... as minhas foram mesmo umas férias enormes!!!  J

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O resto? Depois ser vê…


Que ténue é a linha da vida…
O bem e o mal
A vida e a morte
Lado a lado, sempre lado a lado!
Quando o bem está mais presente e visível
E tudo é luz e ar pulsando de vida
Quase esqueço o resto!
O resto, o que só acontece aos outros!
Alguém cai
Alguém sofre
Alguém parte
São todos tão distantes!
Como se os meus estivessem protegidos
Porque a escuridão pertence ao resto e o resto só acontece aos outros!
Só que eu pertenço ao grupo dos “outros” de alguém
Cair, sofrer, partir… pode acontecer comigo.
E vem o medo, o querer anular o perigo
A tentação de fechar a porta e trancá-la por dentro para que o mal não entre
Ou para que ninguém queira sair em direção a ele
O medo tolda-me o raciocínio! Torna-me irracional!
De repente tudo é instinto!
Proteger é a palavra de ordem!
A linha da vida é ténue e o resto está mesmo ali… perto, demasiado perto!
Não posso viver sem as referências do passado nem sem os olhos postos no dia seguinte.
O passado existiu e o futuro é onde quero ir
Mas a vida vive-se no presente, no hoje, no já!
A racionalidade que se ausenta e deixa reinar o instinto animal
O instinto moldado pelo raciocínio
A linha ténue, o caminho lado a lado
Resistir a ser tolhida pelo medo, lutar para seguir em frente!
A maior parte das coisas que tememos acabam por nunca chegar a acontecer!
E se acontecem?
Viver em equilíbrio nesta ténue mas desafiante linha!
Viver…  
O resto? Depois ser vê…

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Ser "Ginete": Um modo de vida

A vida está constantemente a surpreender-me!
Há sempre coisas novas a acontecer, experiencias para viver, momentos inesquecíveis… basta ter abertura para deixar fluir!

Os dias de hoje são muito caraterizados pelo individualismo, a solidão.
Todos conhecemos alguém que, mesmo rodeado de gente, é uma pessoa só!
Às vezes tenho necessidade estar sozinha, é verdade.
De “estar”! Não de “ser”! Estar “só” é opção, ser “só” é condição involuntária de vida.

A família é sempre o refúgio! O colo, o aconchego. É vital!

Desse aconchego também faz parte a dança!
A minha Ritmus, mulheres maduras, esposas e mães que recusaram a render-se à inércia e ao conforto do sofá! A Mix, Corpus e Sibilas que são as nossas filhas e que nos vêm como parceiras, amigas e mãezocas! A família “Ginetes”.

Com a nossa matriarca Gina no comando, temos conseguido coisas fantásticas!
A mais fantástica de todas é sentir a união das 4 classes como se de uma só se tratasse.
Somos mesmo uma família, com as turras e tudo! Mas essencialmente, uma família que se une em prol de algo maior! Às bailarinas juntam-se os pais, os filhos, os maridos, os avós, os irmãos… sem eles não era possível chegar onde chegamos. O apoio que vem de casa é tão importante como as aulas, os espetáculos e os saraus. Sem esse apoio, muitas de nós não poderíamos ser “Ginetes”

A idade, o peso, a altura, a flexibilidade, etc, são características e não limitações. Cada uma dá o tem de melhor e faz de cada dificuldade uma oportunidade para ir mais além!

Ser Ginete tem-me permitido vivenciar o que nunca pensei possível!
Se me dissessem que iria ser atleta federada, dançar numa sala de espetáculos, ir à televisão, cantar com uma orquestra, etc, eu diria que estavam a falar de outra pessoa. Mas não! Sou mesmo eu! E por certo todas terão momentos assim, inacreditáveis.

Alegria, cor, movimento, expressão! É possível pessoas “normais” fazerem coisas extraordinárias!
Digo sem modéstia que esta família tem nos outros um maior impacto do que nós podemos imaginar.

Os dias de hoje são muito caraterizados pelo individualismo e aí marcamos a diferença. Somos um! Unidade que respeita o individuo mas que consegue respeitar também o coletivo e vivencia-lo de um forma especial!

Ser Ginete: Um modo de vida

quinta-feira, 15 de maio de 2014

“Deixo-vos a paz”

Perante os nossos corações atribulados
Ensinas a viver, para que não tenha medo
Vidas escuras por todos os lados
A Tua palavra é luz e isso não é segredo

“Deixo-vos a paz, a minha paz que vos dou
não vo-la dou como a dá o mundo
Não se turbe o nosso coração
Nem sinta um temor profundo


“Deixo-vos a paz, a minha paz que vos dou
não vo-la dou como a dá o mundo
Façamos brilhar a Tua luz
Uma luz de amor! De amor fecundo!

A cada passo insensato que dou
Refazes a minha vida, vens-me resgatar
Dás-me Jesus que me salvou
Dás-me a mão neste meu caminhar

Que brilhem como o sol nascente
Aqueles que amam o Senhor.
Que Te sinta sempre em mim presente
Que viva e reparta o Teu amor

sexta-feira, 7 de março de 2014

Olhar para dentro.


Olhar para dentro...
Quantas vezes me atrevo?
Sim!
Quantas vezes me atrevo a olhar para dentro?
Olhar-me olhos nos olhos, descobrir em que penso e no que verdadeiramente sinto, sem medo do que vou encontrar.
Tendo a manipular o pensamento e o sentimento para pensar e sentir o que devo e não o que quero.
O que me forço a pensar e sentir vai condicionar o que digo e faço...
Não! não estou a falsear o meu "eu".
Estou só a ser quem devo. Se quero ser essa pessoa? Quero! Essa pessoa sou mesmo eu de verdade, não estou a fingir!
Agora... eu também estou na gargalhada mais alta, no corar com um piropo ouvido ou dito, no chorar de paixão ou de raiva, no canto, no movimento, no grito ou nos silêncios, no descontrolo...
Quando realmente penso e sinto o que penso e sinto, aí também estou eu.
Qual dos dois é mais genuíno? O "eu" racional ou o "eu" mais emotivo?
Só tenho uma resposta: ambos!
Estamos na Quaresma: tempo de "olhar para dentro", refletir, silenciar ruídos!
Só silenciando cá dentro é possível ouvir os sons que vêm de fora... é tão enriquecedor misturar o que temos com o que apreendemos!
Shhh! Silencio! Escutar! Escutar-se! Será que vou conseguir?
Na Quaresma também é tradição não comer carne à Sexta-Feira. (Sabem porquê? Se não, tentem saber. É interessante! Não, não vou contar! Trabalho de pesquisa, meus amigos!)
Uma boa forma de olhar para dentro pode passar por aí, pelo que comemos. Em vez de torcer o nariz ao peixe porque o que estava a apetecer era um bife com batatas fritas, dê-mos graças a Deus por termos opção de escolha, por termos alimento!
Olhar para dentro: podemos até ter receio do que vamos encontrar mas vale a pena!
Hoje, isto que escrevo faz todo o sentido na minha cabeça.
Amanhã?
Talvez nem saiba porque o que escrevi.
Mas não me importo!
Olhei para dentro!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Que o mundo que carregamos aos ombros traga a luz ao nosso caminhar...


Não, não sou forte
Quero ter direito à fraqueza
Direito ao medo da morte
Direito à minha tristeza
As lágrimas que cortam o rosto
Arrastando o preto do rímel
Serão alegria? Desgosto?
Doce sabor ou amargo fel?

Carrego o mundo aos ombros
Exigência de postura, retidão!
Proíbe-me a vida os tombos
Obriga-me à perfeita perfeição
Não, não sou forte
Sou como todos, sou mais uma
Tentando o equilíbrio, o porte
Salto alto, aroma que o ar perfuma

Um sorriso rasga-me o rosto
Rosam-se as faces à timidez
Um som de riso bem posto
Felicidade? Desfaçatez?
Pesa-me o mundo nos ombros
Oro a Deus, Ele segue comigo
Levanto a vida dos escombros
Por saber que neles mora perigo


Sorrir por fora não vale
Se o interior não sorrir
Por mundo que caminhe ou pedale
Sei que tenho, que vou conseguir!

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

“Adapta-te”

                                                   
Recebi como lembrança (ou acção de marketing) uma “cartilha” cuja capa está repleta de “Adapta-te”.

Não entendo se é dito em tom de ordem, de conselho, de necessidade, em voz alta ou em voz baixa. Para o caso, não é importante.
Facto é que, de tantas vezes ser dito, podemos ser levados a pensar que é fácil ser adaptável. Pois eu digo: não é!
Adaptar é como pegar no meu “eu” de origem e fazer um re-mix para obter um “eu” diferente, sem que esse “eu” diferente deixe se ser “eu”. Confuso?

A propósito das adaptações que temos de fazer ao nosso eu ao longo da vida, partilho uma história real que de tão fantástica parece imaginada.

Há uns anos, recebi um telefonema: anunciavam-me que tinha sido selecionada para participar numa entrevista aos Xutos & Pontapés. Foi por altura dos 30 anos de carreira da banda.
É verdade que tinha concorrido e que havia essa possibilidade. No entanto, não deixei de ficar pasma, tonta, em choque (e outras coisas) com a notícia.
Pus-me a caminho com a minha pergunta a tiracolo.

Ali estavam eles: Os Xutos! O animador que conduzia a emissão, também ele tenso e nervoso, grande fã da banda, posicionava-se ao meio. Começou a aventura!
Treze sortudos, selecionados entre dezenas, iam desfiando as perguntas recebendo de volta as respostas dos monstros.
 
Depois de me adaptar para não fazer má figura nos meus dois minutos de fama, perguntei:
 
“Eu não sou o único… é um jogo do empurra, uma teimosia, ou o assumir do papel de homem do leme num remar, remar coletivo neste mundo ao contrário?”
 
Este jogo de palavras provocou algum “bruá” na sala, os Xutos olharam uns para os outros com "cara de ponto de interrogação" e depois de uma pequena pausa lá consegui uma resposta onde se assumiu a teimosia para seguir em frente!
Teimosia ou persistencia? Depende se se quer encarar essa atitude como negativa ou positiva…
Foi um fim de tarde inesquecível. Os diálogos, as fotografias "em família", os autógrafos, os cumprimentos, a música, o ambiente…

Algures no meio deste turbilhão, terei de assinalar que ao fim de algum tempo e de uns quantos e-mails, cruzamentos e desencontros, pude rever um amigo que tanto me ouve (lê) e com quem tanto desabafo. Uma Radio Star bem terrena e real. Uma amizade que dura há 10 anos!
É estranho como falamos tanto por escrito e como nesse dia me encontrei vazia de assuntos. Diz o povo que quem fala pouco acerta, por isso talvez seja melhor assim.
Quantas vezes o que não é dito também se afigura importante?
 

 

Janeiro 2014
(5 anos depois da foto, nos 35 anos de carreira dos Xutos & Pontapés)
 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

As linhas da vida

Às vezes ficamos presos nas linhas da vida, receando não ter forças para desenhar outras palavras, mudar o rumo da nossa história.
Há que arriscar, vencer os medos, libertar cada personagem que somos e saltar!
Só assim "o mundo pula e avança".
O mundo pequenino que há em cada um de nós é tão grande e tem tanto para descobrir!
Falar é fácil!
Basta acender a televisão e não faltam comentadores políticos, desportivos, de economia!
Dizem umas balelas, constroem teorias, afiguram-se salvadores da pátria, dos relvados e das finanças publicas e privadas. Parece tudo tão simples!
Dou por mim a pensar o que teriam a dizer os comentadores sobre a minha vida e as minhas opções...
Estou certa de que poderia encher um baú de bons conselhos e sugestões!
O que gostaria mesmo era de os ver na minha pele! Sim, a viver a minha vida! Estariam assim tão cheios de certezas?
Uma das minhas frases de eleição é "Se te der um gato, preocupas-te com as 7 vidas dele e deixarias a minha em paz?" Há sempre tanta gente pronta para apontar a dedo todas as falhas! Há sempre tão bons comentadores, tanta gente com a certeza absoluta de que fariam diferente e melhor!
O mundo pequenino que há em cada um de mim é tão grande e tem tanto para descobrir!
As descobertas, tenho de ser eu a fazê-las. Não há outra forma!
Descobertas de riso, de choro, de encantamento e desencantamento!
Às vezes fico presas nas linhas da vida. Sem força, sem direção, sem saber como seguir em frente!
Há que arriscar, vencer os medos, libertar cada personagem que sou e saltar!
Se a queda for difícil e empoeirada, a única saída é levantar, sacudir o pó e saltar de novo!
Falar é fácil! É, mas...
Só assim "o mundo pula e avança".

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Resolução para o novo ano...

E eis-nos no novo ano…
A cada ano que começa proliferam mensagens de felicitações, balanços e desejos trazidas em forma de frases feitas ou criativas, sempre com a ideia de que “este ano é que é!”

Se a vida mudasse por mudar o calendário seria tudo muito mais fácil mas muito menos autêntico! O desejo de mudar ou permanecer, ser diferente ou igual, tem de vir de dentro!
O querer ser melhor a cada dia tem de ser algo contínuo e não um episódio que ocorre na passagem de ano entre doze passas e um golo de champanhe!
Não sei se este ano vou ser uma melhor pessoa, não sei se vou contribuir para a felicidade dos outros, não sei o que vou fazer…
Sei que vou viver!
Viver cada dia, não como se fosse o ultimo mas como mais uma peça da minha vida-puzzle.
Gostava que no fim da vida (daqui a muitos, muitos anos e muitas, muitas peças) quem olhasse para as peças encaixadas do meu puzzle vislumbrasse uma bela imagem!
Eu sou esta criatura despenteada, cheia de fios de cabelo rebeldes que envolvem uma cabeça cheia! É isto que sou e se algo mudar em mim não vai ser a minha essência.
Resolução para o novo ano: em 2014 vou continuar a deixar-me despentear pela vida!