terça-feira, 28 de janeiro de 2014

“Adapta-te”

                                                   
Recebi como lembrança (ou acção de marketing) uma “cartilha” cuja capa está repleta de “Adapta-te”.

Não entendo se é dito em tom de ordem, de conselho, de necessidade, em voz alta ou em voz baixa. Para o caso, não é importante.
Facto é que, de tantas vezes ser dito, podemos ser levados a pensar que é fácil ser adaptável. Pois eu digo: não é!
Adaptar é como pegar no meu “eu” de origem e fazer um re-mix para obter um “eu” diferente, sem que esse “eu” diferente deixe se ser “eu”. Confuso?

A propósito das adaptações que temos de fazer ao nosso eu ao longo da vida, partilho uma história real que de tão fantástica parece imaginada.

Há uns anos, recebi um telefonema: anunciavam-me que tinha sido selecionada para participar numa entrevista aos Xutos & Pontapés. Foi por altura dos 30 anos de carreira da banda.
É verdade que tinha concorrido e que havia essa possibilidade. No entanto, não deixei de ficar pasma, tonta, em choque (e outras coisas) com a notícia.
Pus-me a caminho com a minha pergunta a tiracolo.

Ali estavam eles: Os Xutos! O animador que conduzia a emissão, também ele tenso e nervoso, grande fã da banda, posicionava-se ao meio. Começou a aventura!
Treze sortudos, selecionados entre dezenas, iam desfiando as perguntas recebendo de volta as respostas dos monstros.
 
Depois de me adaptar para não fazer má figura nos meus dois minutos de fama, perguntei:
 
“Eu não sou o único… é um jogo do empurra, uma teimosia, ou o assumir do papel de homem do leme num remar, remar coletivo neste mundo ao contrário?”
 
Este jogo de palavras provocou algum “bruá” na sala, os Xutos olharam uns para os outros com "cara de ponto de interrogação" e depois de uma pequena pausa lá consegui uma resposta onde se assumiu a teimosia para seguir em frente!
Teimosia ou persistencia? Depende se se quer encarar essa atitude como negativa ou positiva…
Foi um fim de tarde inesquecível. Os diálogos, as fotografias "em família", os autógrafos, os cumprimentos, a música, o ambiente…

Algures no meio deste turbilhão, terei de assinalar que ao fim de algum tempo e de uns quantos e-mails, cruzamentos e desencontros, pude rever um amigo que tanto me ouve (lê) e com quem tanto desabafo. Uma Radio Star bem terrena e real. Uma amizade que dura há 10 anos!
É estranho como falamos tanto por escrito e como nesse dia me encontrei vazia de assuntos. Diz o povo que quem fala pouco acerta, por isso talvez seja melhor assim.
Quantas vezes o que não é dito também se afigura importante?
 

 

Janeiro 2014
(5 anos depois da foto, nos 35 anos de carreira dos Xutos & Pontapés)
 

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