sexta-feira, 4 de setembro de 2015

“Este parte, aquele parte e todos, todos se vão…”



“Este parte, aquele parte e todos, todos se vão…” 1

Partir nunca nos deixa indiferentes!
Partir traz-nos sempre um “sentir”
Alegramos por partir para férias
Invade-nos a nostalgia quando temos de regressar
Partimos de casa manhã cedo, enfrentamos um dia de trabalho e partimos de novo ao fim do dia, de volta à outra vida que nos espera em casa.
Passamos os dias envoltos em partidas e chegadas aqui e ali, a lugares e sentimentos, optando por este ou aquele caminho. Mesmo inconscientemente, as nossas partidas são fruto das opções que tomamos ao longo da vida, do querer ou do “ter de ser”.
Sempre? Não, nem sempre…
Quando somos confrontados com o facto de alguém partir para um algures sem retorno, o que sentimos é demasiado confuso e difuso para dispor em palavras.
A consciência de um “foi melhor assim” é completamente anulada por uma dor sem tamanho e uma saudade que será para sempre.
Ao pensar que “foi a vontade de Deus”, podemos estar a dar-Lhe uma imagem de pai carrasco de arrasta consigo os nossos e deixa no mundo os “maus”, num duvidoso e incompreensível critério na Sua Justiça Divina.
A explicação da “lei da vida” não nos chega!
Nascer-viver-morrer… é tão assustadoramente simples que talvez por isso tentemos encontrar um justificativo mais complexo para o sentido das coisas, em especial para este final-de-linha.
O sofrimento que termina num profundo silêncio dá lugar ao grito estridente de quem fica, a um vazio cheio de memórias que nos passam na cabeça como um filme.
As palavras ficam ocas e tudo o que se possa dizer ou ouvir não faz sentido. Fluem porque tem de ser, porque ficar calado pode ser mais difícil do que dizer o que sempre se diz… temos de ter paciência, a vida é assim.
É verdade, a vida é assim! Partir é tão natural como chegar. Mas a chegada traz a alegria do encontro e a partida…
A vida é assim mas não creio que tenhamos de ter paciência! Temos de ter uma enorme capacidade de lidar com a ausência e uma capacidade maior ainda para nos sentirmos felizes com o que pudemos ter enquanto as nossas partidas e chegadas eram coincidentes, voluntárias, recorrentes e não definitivas.
“Tens de ter muita força”… Força? Não! Não temos de ter força!
Dane-se a força que nos exigem, que exigimos e que nos auto-impomos!  Temos de chorar, estrebuchar, gritar, calar!
A única força que temos de ter é a de dar asas ao que estamos a sentir! Sintamos, pois! Permitamo-nos sentir, reagir!
 “Este parte, aquele parte e todos, todos se vão…” Embora o poema a que pertence possa fugir ao âmbito deste meu texto, é frase em si que ecoa na minha cabeça em looping!
Todos se vão! Cada um ocupa um lugar na nossa vida e quando parte é um pouco da nossa história que se vai.  
Convive-se com a ausência, lida-se com a saudade mas o mais importante é conseguir beber dos ensinamentos, ainda que difusos no tempo.  Algo que vivemos no passado, depressa se torna presente! Está à distância de um “clic” no nosso pensamento, no nosso coração.
Quem fica, repensa, refaz, reorganiza-se… e segue o caminho, fazendo check in e check out a cada viagem até ao seu próprio ultimo sopro.
Havemos de ir mas agora estarmos aqui! Façamos por valer a pena!
 

1 in “Cantar da emigração” de Rosália de Castro













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