sexta-feira, 13 de maio de 2016

Olhar para Dentro II


Foi em Outubro de 2014 que, pela primeira vez, levei a cabo um desejo de há muito: Fazer os caminhos de Fátima. Sem promessas, sem intensões particulares e bem definidas mas pelo que o caminho me poderia oferecer.  De coração cheio e a alegria de poder “olhar para dentro”, lá fui!
Deus concedeu-me a Graça de conservar os pés livre de bolhas durante todo o caminho.
Ao segundo dia, concedeu-me também a Graça de desenvolver bolhas no coração e na cabeça.
A dor provocada por estas bolhas foi em crescendo a cada km da EN3. De repente o caminho deixou de fazer sentido, senti uma profunda solidão, uma tristeza. Comecei a ter um único foco: sair dali! Ao fim do dia voltei a casa.
Foi em casa que estive no 3º dia. Organizei as ideias e os sentimentos.
Creio entender agora que a ausência de sentido, a solidão e a tristeza não foram mais que um esvaziar de mim mesma num encontro a sós com Deus, difícil de acontecer na correria dos dias! Um “olhar para dentro” como nunca, talvez!
No 4º voltei, de bolhas tratadas e alegria renovada.
Estas bolhas transformaram algo em mim, que não sei nem me preocupo em explicar.
Como se me fizessem voltar atrás para ganhar balanço para o caminho, não só o caminho de Fatima mas também o caminho da vida.
Foram sem duvida uma Graça que me foi concedida!

Este ano, Deus chamou-me de novo ao caminho!
O desafio veio quando não esperava, por intermédio de não esperava e tive a certeza que era Ele que me chamava a sarar de vez algumas bolhas que ainda me tinham ficado.
Foi cheia de medo que disse “Sim” mas foi também sem qualquer duvida de que era essa a única resposta que podia dar! Se o medo nos pode estancar, a verdade é que também nos pode impelir! O medo pode mesmo ser um ponto de partida!
Sem alarido, sem falar no assunto a muita gente, sem fotografias no face, vivi um caminho rico, introspetivo, feliz!
Também agora Deus me concedeu a Graça de conservar os pés livres de bolhas durante todo o caminho. Só que desta vez conservou-me também, o coração e a cabeça livres de bolhas!
Ao longo do caminho foram surgindo questões: Onde estou? Quem carrego? Quem me carrega? Quando sou “paralítico”? Quando é que Deus se mete comigo no caminho? Como O reconheço? São questões a que vou respondendo mas que também se vão renovando a cada dia e não almejo a saber todas as coisas, dissolver todas as interrogações.
As bolhas fazem parte da história do caminho! Onde quer que sejam! Há que lidar com elas, recuar para ganhar balanço, tentar de novo!

Os caminhos de Fátima fervilham de gente de fé!
Porque é que vamos?
Cada um terá ou procurará resposta. Um ato de fé? De humildade?
Estar mais perto de Deus pela proximidade com o outro, pela oração, pela partilha.
Senti-me muitas vezes pequena perante a grandiosidade dos gestos e força dos que caminharam comigo.
Curioso ter participado nesta peregrinação perto do 25 de Abril, o dia da Liberdade! 
Rezar com os pés dói, cura e liberta!
Dói por dentro porque estamos frágeis, sem ruido que nos distraia de Deus e do nosso íntimo! Cura-nos o silêncio que conseguimos fazer cá dentro. Liberta-nos cada passo que damos no caminho!

Porque é que vamos?
Cada um com seu propósito mas todos com a certeza de que Ele caminha ao nosso lado e que temos sempre um colo de Mãe à nossa espera!
 
Caminhos de Fátima – 21 a 24 Abril.